domingo, 24 de abril de 2011

No Place to Run.

RA festa ainda não havia terminado, mas nós resolvemos sair. O "nós" refere-se a mim, os meus dois amigos, cujos nomes são Paola e Marcos, e ela. Maíra.
O sapato de salto alto dificultava ainda mais os meus passos, já que eu tinha bebido o suficiente para ficar tonta. Mas lembro-me muito bem de tudo.

Naquela noite, a lua brilhava como nunca... parecia até uma espécie
de sol artificial, mas a escuridão continuava predominando...


Não prestava atenção para onde estávamos indo, até que dei de cara com um muro enorme, com a tintura branca descascada. - Você tá maluca, é? - perguntei ofegante a Maíra. - Não gosto de cemitérios! Não vou entrar! De jeito nenhum.
- Pare com a frescura - obtive como resposta - Os traficantes costumam enterrar as drogas aí para esconder da polícia... Vamos nos divertir um pouco!
- Se você não consegue controlar sua loucura, não nos meta nisso, Maíra! - gritei - E vocês dois - falei apontando para os meus amigos - Parem de ir atrás das ideias dessa garota maluca! Vocês acabaram de conhecer ela!
Mas minhas palavras não causaram impacto nenhum sobre eles, já estavam subindo atrás daquela garota.
- Ótimo, além de tudo, me ignoram - exclamei cruzando os braços - Vou ficar esperando aqui fora, caso se toquem e resolvam voltar.


Era incrível a influência que aquela garota misteriosa causava. Apesar de não simpatizar com o seu estilo de "quero encrenca", era impossível negar o seu encanto. Seu cabelo preto era perfeitamente desajeitado, contrastando com a pele, que tão pálida, parecia uma estátua ambulante. E os olhos? Negros como o céu daquela noite, com um brilho intenso, sobrenatural. Ela era do tipo que hipnotizava qualquer menino, e causava dúvidas a respeito da sexualidade de meninas, que até então, se consideravam heterossexuais - assim como ela causou em mim.

Quando escutei um grito de Paola, fui correndo em direção aos portões e subi. Porém, não obtive sucessos na descida, acabei caindo em cima de uma pedra, machucando meu joelho, tendo ainda mais dificuldades para andar. Os encontrei sentados em cima de um túmulo. Marcos ria sem parar, Maíra esboçava aquele sorriso enigmático e sarcástico. E Paola, quem causou milhares de pensamentos negativos em minha mente por causa de seu grito, estava com uma expressão raivosa e risonha ao mesmo tempo. - Eles quase me causaram um infarto - ela disse.
- Você é que quase me causou um infarto, garota, o que aconteceu?
Ela aponta para Marcos, que pega um crânio de um lata de lixo, ainda rindo.
- Parem de brincar com isso. Além de desrespeitoso, é nojento! - falei observando as deformações, e que idade deveria ter aquilo.
- Se acalme, eles são tão jovens... Isso é normal nessa idade. - Disse Maíra, que ainda esboçava o sorriso que me inquietava.
- Você fala de um jeito que parece muito mais velha. - falei.
- Talvez eu seja.

 Após sua resposta, escutei o barulho de um vento forte, que parecia aproximar-se cada vez mais. Comecei a correr em direção a uma capela, e Paola veio atrás. Quando paramos e olhamos para trás, vimos Marcos parado, olhando fixo para a cruz no topo da capela.
- Marcos, o que você está esperando? Venha! - Paola gritou.
Maíra pegou um machado, e eu, prevendo o que ela iria fazer, soltei um grito e tentei correr em direção a Marcos, mas Paola me puxou e continuamos correndo.

Maíra vinha atrás de nós, e era impressionante a velocidade que ela corria. Entramos na igreja e tentamos trancar a porta, achando que Maíra iria tentar arrombar. Mas a única coisa que ela fez foi dar uma risada diabólica e gritar "Vocês não tem como escapar, não podem ficar aí para sempre."


Acordei com uma enorme dor de cabeça e sensação de agulhas perfurando meus braços. Só então percebi que não estava mais na capela, e sim em um quarto de hospital. E ao invés de Paola, estavam na minha volta os meus pais, uma enfermeira e um homem que eu não sabia quem era, que estava me encarando.
Perguntei o que tinha acontecido, e todos ficaram um tempo sem falar nada, até que o homem estranho se manifestou.
- Bom dia senhorita, eu sou o delegado da polícia municipal. Encontramos você e sua amiga, Paola. desmaiadas na igreja do cemitério da cidade. Ela, infelizmente, está morta.
A sensação de pânico me invadiu.
- Como assim morta? Ela estava super bem. Quem morreu foi o Marcos, assassinado por aquela vag...
- Assassinado por quem? - perguntou o delegado, mas me deixando sem tempo de responder. - Paola Sanches  foi encontrada degolada. E você é a principal  vítima de seu assassinato.
- Eu não matei ela, foi aquela tal de Maíra que matou o Marcos... Aí eu e a Paola corremos pra nos esconder na igreja. Então nós nos deitamos no chão, usamos nossos casacos como cobertas e fomos dormir.
- Espere aí senhorita... - disse, pegando uma caderneta e uma caneta no bolso do casaco, fazendo anotações. - Seu médico já lhe deu alta, acho que podemos conversar melhor no meu escritório.


Chegamos ao estacionamento, e como eu imaginava, iríamos em um carro da polícia. Embarquei no banco de trás, já que o delegado insistiu em achar que não tenho mais de 12 anos, e naquela hora não fazia ideia de onde foram parar meus documentos.
A sensação de entrar em uma delegacia de polícia é indescritível, principalmente quando você é acusada de ser uma assassina psicopata por ter degolado sua amiga em uma noite anterior, quando na verdade, você estava era fugindo de uma assassina psicopata de verdade que tinha acabado de matar um amigo seu diante de seus olhos.

Ele sentou-se e ordenou para que eu fizesse o mesmo. Obedeci, então, ficamos separados por sua mesa.
- Você falou de uma outra garota que tinha assassinado um amigo seu... qual é mesmo o nome dela?
- Maíra.
- Hum. E?
- E o quê?
- Bem, senhorita, acredito que há várias meninas com o nome de Maíra por esta cidade. Só o nome não é suficiente, se você puder contribuir com sobrenome, fisionomia...
- Eu não sei o sobrenome dela, conheci ela ontem. Ela tem cabelos e olhos pret...
Fiquei paralisada quando vi aquela foto em um porta retrato na mesa. Era ela. O mesmo vestido, o mesmo penteado, o mesmo sorriso enigmático da noite anterior. Era ela, Maíra!
Minha unica reação foi apontar para o retrato.
- Hein? O que você está querendo dizer?
- É éssa! É essa a garota!
- O quê? Impossível. Essa garota viveu cerca de setenta anos atrás, era a irmã da minha avó. Não cheguei a conhecê-la, já que morreu quando ainda era nova, mas coloquei seu retrato aqui porque a achei linda... E precisava de algo de bonito para colocar aqui, não que eu esteja reclamando das fichas e fotos dos criminosos, é claro. Aliás, por estranhas coincidências, ela também foi degolada, e foi encontrada morta algumas horas depois de ter tirado esta foto.
- Eu tô falando a verdade, foi essa a garota que eu vi.
- Olha, mocinha, eu nunca lidei com casos de menores de idade cometendo assassinatos do tipo. Eu sei que você deve estar nervosa, até porque eu realmente desconsidero a possibilidade de ter sido você quem cometeu este assassinato, mas falar esse tipo de coisas já passa do limite.
- Espere, espere... O corpo dela está enterrado no cemitério da cidade?
- Sim.
- Então vamos lá, eu vou provar para você que eu estou falando a verdade.

Realmente, o túmulo dela existia. E estava arrombado, com o concreto destruído provavelmente por um martelo, o que facilitou para mim na verdade, porque ainda teria que conseguir algum tipo de permissão para poder abri-lo. E o motivo? "Eu acho que a garota que foi enterrada aí andou dando umas saídas e matando pessoas, sabe? Ei, esperem, o que vocês vão fazer com essa camisa de força?"
Um grito saiu da minha boca quando abrimos o caixão. Era o corpo de Marcos que estava lá, e a cabeça, estava em cima de seu peito, dando uma impressão bastante sarcástica.

Eu consegui ser inocentada por enquanto, mas as buscas continuam, e eu sei que ainda não acabou... Não para mim.
E a dúvida que ainda perturba minha mente é, onde está Maíra?


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