sábado, 30 de abril de 2011

The Passage to a World build by Reveries.


Fantasia. Algo capaz de causar uma sensação de pseudo-felicidade até no indivíduo mais infeliz. O "mundo perfeito" originado na imaginação dela, é a sua vida em uma versão melhor, com todos os seus desejos considerados "impossíveis de realizar" realizados...

As pessoas são a melhor parte. O sujeito realça os pontos positivos das que gosta, tornando-as praticamente perfeitas, e os negativos das de quem não gosta, acreditando ter um certo "domínio" sobre estas últimas, subestimando-as, achando-as incapazes de atingi-lo. .. Porém, essa é a desgraça no mundo real. O 'amigo' pode se mostrar inimigo, e o inimigo pode se mostrar mais forte. E quando o sonhador descobre isso, acaba decepcionando-se, ficando ainda mais infeliz, criando mais fantasias... Masoquismo isso, não?
Depois de tanto tempo sendo uma pessoa utópica, e vivendo nesse ciclo vicioso de fantasia, decepção, fantasia, decepção, acabei tirando tais conclusões. Continuo fazendo uso da minha imaginação, é claro, mas com nada que tenha relação a minha vida. Além disso, com o passar do tempo, fui adquirindo um gosto bastante, hum... dramático... para fantasia. Contos com finais felizes são algo que já não me agradam mais como antes.

É possível estabelecer uma relação de fantasia e otimismo. O pessimista vai ser sempre o mais satisfeito com os resultados obtidos, tudo vai sempre sair melhor ou menos pior do que imaginava, ao contrário do otimista.  Aquela frase "quando você deseja algo, o universo conspira a seu favor" é só mais um incentivo ao otimismo, mais importante do que a tranquilidade da pessoa antes acontecer algo, é como ela vai reagir depois de acontecer.

Agora, imagine um copo preenchido de água, ou qualquer outro líquido, até a metade.
O copo está meio cheio, ou meio vazio?
Se sua resposta foi 'meio vazio', considere-se com sorte. Se foi a outra, hum... Tenho más notícias.

terça-feira, 26 de abril de 2011

The Old Fig Tree's Fruit.

[Taken from 7 Bones and 1 Curse]




Denise não acreditava em casas mal-assombradas. "Não há nada que dez baldes de tinta fresca não resolvam" costumava dizer. Além disso, ficou louca quando viu o casarão à venda. Era simplesmente espetacular. Tinha um terreno para fazer jardim e quintal, três salas imensas, cinco quartos, três banheiros, e vários cômodos que poderiam ser adaptados. O lugar perfeito para uma recém casada que pretendia ter filhos.






Velha, era até demais. Exigiria um bocado de reformas. Mas o preço era incrivelmente baixo, jamais conseguiria comprar uma casa daquelas por tal preço. Não foi difícil convencer o noivo a trocar o sonho de um pequeno apartamento de sala e quarto por uma mansão maravilhosa








Compraram o imóvel e levaram um ano inteiro fazendo obras. 
Ao fim do período, tinham uma casa simplesmente deslumbrante. A antiga fachada descascada agora exibia uma alegre pintura amarela. Portas, janelas e pisos tinham sido recuperados. Cômodos que antes cheiravam a mofo deixavam passar fartas lufadas de ar fresco. Canteiros de flores e ervas aromáticas substituíam o terreno baldio que antes rondeava a casa. 
Tinham capinado e replantado tudo.




Denise só manteve uma antiga figueira. Era simplesmente magnífica com seu tronco forte e uma profusão de galhos. Quem chegasse na casa, veria em primeiro lugar, a figueira, que reinava, soberana, na entrada. Em seguida, prestaria atenção na moradia impecavelmente reformada. Agora ali tudo era claro, colorido, e cheirava bem.




Verdade que a vizinhança ainda evitava o lugar. Até mesmo o carteiro relutava em se aproximar. Mas nada impediu o jovem casal de mudar-se para lá logo após a lua de mel.




Denise ainda se lembrava bem do dia da mudança, os dois pegando carona no caminhão e olhando as ruas com uma curiosidade infantil. Foi nessa ocasião que ela reparou na igrejinha que ficava a poucos quarteirões da casa. Uma graça. Apesar de sua arquitetura antiguinha, era, obviamente nova, com a pintura ainda fresca e um sino que ainda reluzia.



Tiago e Denise capricharam na primeira noite que passaram na nova residência. Montaram uma bela mesa no jardim e serviram ali um jantar especial, com toalhas bordadas, talheres novos, flores e velas.
Apaixonado, o casal tomou uma taça de champagne, enquanto admirava enquanto admiravam a propriedade e engoliam a comida feita por eles mesmos - que nem estava tão boa assim, mas nem ligaram.



Nenhum dos dois era bom cozinheiro. O romantismo foi o suficiente para ignorarem o bife duro e o arroz mal cozido, mas na hora da sobremesa, foi impossível engolir o pudim, feito com todo o amor do mundo - mas nenhuma técnica culinária -, foi deixado de lado logo depois da primeira colherada. Estava intragável. 
O jeito era rir do desastre. Rir muito, jogando a cabeça para trás, olhando a lua e dandos muito beijos. 



Foi assim, com a cabeça jogada para trás e plena de felicidade, que Denise percebeu que a figueira estava repleta de frutos. À luz do luar, brilhavam... cintilantes e convidativos. 
Nem pestanejou. Correu para a árvore e colheu o mais bonito. Seria a sobremesa certa para aquela noite perfeita - só estragada por um errinho na receita do pudim. Voltou para a mesa rindo e mordendo a fruta. Estava deliciosa. Madura, carnuda e doce como a melhor das sobremesas. Comeu a metade, deu a outra para o marido, e foram dormir.


Nada explicaria o terrível pesadelo daquela noite. A brisa estava fresca, o quarto arejado, os lençóis eram novos e macios, o jantar tinha sido leve e ela estava muito feliz. Tratava-se de uma realidade tão perfeita que era consigo mesma que Denise sonhava. 






Sonhava que estava dormindo em sua casa nova, ao lado de seu marido, depois de um alegre jantar no jardim. No sonho, experimentava passar o peito do pé de leve sobre o lençol. Ia sentindo a maciez do tecido como um carinho, até que seu pé tocasse o corpo de Tiago. Então, voltava para a posição inicial e começava tudo de novo. Deslizar a pele pelo algodão fresco, tocar a perna do marido, recolher o pé. No entanto, num desses movimentos, esbarrou em uma coisa diferente. Em vez da suavidade do tecido ou do calor do corpo de Tiago, seu pé tocou em uma superfície áspera e úmida, como um osso recoberto por escamas geladas. Abriu os olhos, sobressaltada, e viu uma criatura em sua cama, entre ela e o marido.


Não dava pra saber ao certo do que se tratava, se bicho ou assombração. O corpo, muito magro, era recoberto de couro rugoso. A coisa eslava sentada de cócoras, com os joelhos dobrados, mas não da maneira como uma pessoa encolhe as pernas. E os pés e as mãos, mais parecidos com garras, lhe diziam que aquilo, decididamente, não era humano.



Bastava olhar o rosto. A cabeça pendia do pescoço e girava em todas as direções, como a de uma galinha. Mas os olhos estavam cravados nela. Miúdos, brilhantes, tão estúpidos quanto cruéis. Embora a coisa não a tocasse com as mãos, Denise sentia a garganta comprimida de tal modo que não conseguia gritar, tampouco podia mover o corpo.


Muda e paralisada, viu quando a criatura abriu a boca - seria aquilo um sorriso? - e lhe disse:
- Gostaria de saber quem a autorizou de roubar as minhas frutas.
Denise queria se defender. Não tinha roubado nada. A casa era sua. Mas a voz não saia. A criatura, no entando, pareceu ler os seus pensamentos.
- A casa é sua? - Uma risada debochada ecoou pelo quarto. - Quem lhe contou um absurdo desses? Esta casa me pertence. Tudo e o que está dentro dela.
Antes que Denise pudesse retrucar, o estranho ser pulou para o chão e complesou, sibilando:
- Inclusive você.


Dizem que quando uma pessoa morre, vê toda a sua vida passar diante de seus olhos. Coisa parecida aconteceu com Denise. 
De repente, tudo o que já tinha ouvi falar a respeito de fenômenos sobrenaturais passou por sua mente ao mesmo tempo, informações às quais jamais dera a menor importância. Histórias que sempre julgara pertencerem ao folclore e às crendices populares. Subitamente, tudo fazia sentido, tudo parecia totalmente real.
"Figueiras são a casa do diabo", sempre lhe dizia sua avó. "O tinhoso escolhe essas árvores como moradia porque elas foram amaldiçoadas por Jesus".



Denise nunca dera muito crédito às histórias da avó. Se tivesse prestando atenção nelas, teria desconfiado do casarão tão barato, do pavor que a vizinhança manifestava ao local. 
Mas nunca tinha sido superticiosa.
- Supertição? - debochou o Diabo, lendo seus pensamentos. - Ora, minha querida, você é minha propriedade, e está em meus domínios. E roubou uma fruta da minha árvore, vai ter que devolvê-la...

Sentada na cama, quase sufocando de pavor, Denise não conseguia responder, nem se mover ou sequer respirar direito.
Quando o grito se soltou de sua garganta, Tiago deu um pulo. Já era de manhã. Sentada na cama, Denise uivava feito um bicho selvagem, na mesma posição em que estivera enquanto o Demônio lhe falava as coisas horríveis que escutara. Teria dormido daquele jeito? Sentada? Não era possível. A impressão era de que fora tirada dali, inconsciente, e acabara de ser devolvida a seu quarto.
Tiago tentava acalmá-la. Dizia mil vezes que tudo não passava de um pesadelo, mas nada adiantava. Denise ainda sentia inteiro o horror da presença, como se a besta apenas tivesse se tornado invisível, mas continuasse ali.




Desde essa noite, não conseguia mais dormir direito. Mal anoitecia, seu coração ficava pesado, cheio de pressentimentos. O sono era interrompido a toda hora por sustos que a faziam abrir os olhos na escuridão. Não via nada de diferente no quarto, mas tinha certeza de que o demônio estava ali, com seus olhos estúpidos e cruéis fixos nela.
E foi assim, noite após noite. Denise emagreceu, ganhou olheiras profundas, tornou-se frágil e nervosa. Nada lembrava a jovem apaixonada e cheia de vida que se casara tão pouco tempo atrás.


Dois meses mais tarde, teve uma notícia: estava grávida. Em vez de ficar feliz, como era de se esperar, caiu no choro. Não sabia por que, mas tudo o que aquela gravidez lhe dava era um medo imenso. E para confirmar seus piores presságios, naquela noite, o bicho medonho voltou.



Estava quase adormecendo, quando sentiu garras ásperas e frias tocarem o seu rosto. Antes de abrir os olhos, já sabia quem era. 
- Não adianta fingir que está dormindo. Sei que você me escuta.- disse a coisa, com sua voz falsamente meiga.
Não era faz-de-conta. Denise não conseguia se mexer, nem falar, nem gritar. E foi assim, paralisada, que escutou a voz do demônio pela última vez.
- Não quero pertubá-la demais, minha menina. - começou ele, pigarreando. - Mulheres grávidas devem ser deixadas em paz. A última coisa que eu desejaria era que esse doce fruto que você carrega no ventre azedasse por conta de seu nervosismo. 
O peçonhento pulou para o chão, e e continuou falando enquanto andava de um lado para o outro, balançando a cabeça, mas sem jamais tirar os olhos de sua presa.
- Mas pense bem, minha querida. Agora, você terá uma chance de ouro de pagar a dívida que tem comigo. Você ficou com meu fruto. Eu fico com o seu. Tudo muito justo. Basta que você me entregue a criança e prometo não voltar a perturbar o seu sono.
Mesmo impossibilitada de mover-se ou gritar, Denise agitou-se de tal maneira que seu interlocutor começou a rir.
- Ora ora, não entendo por que tamanha indignação. Estou lhe propondo um pagamento absolutamente justo pelo roubo que você cometeu. E na verdade, não é bem uma proposta. Estou apenas lhe dando a chance de comportar-se com dignidade e de corrigir seu erro. Se você não me entregar a criança por bem, farei exatamente o que você fez comigo: invadirei seus domínios e atirarei de você como quem arranca uma fruta do galho. Dado o recado, o demônio desapareceu. Mas pelo, para aliviar um pouco Denise, não apareceu mais, mas não o suficiente para acalma-la totalmente, pois quanto mais se aproximava a data do parto, mais tudo lhe parecia um pesadelo real.



Um dia, Tiago passava pela rua, preocupado com o estado de sua esposa, quando de repente viu uma igrejinha. Era a mesma que tinham avistado no dia da mudança. Estava aberta. Da rua, era possível perceber que não tinha ninguém ali dentro. Assim mesmo, resolveu entrar e rezar um pouco.
Era evidente que tinha sido recém construída ou reformada, porque ao invés do aroma adocicado que costuma impregnar nas igrejas, ali o que predominava era o cheiro de tinta fresca. 
Tiago aproximou-se do altar, se ajoelhou e, antes mesmo de fazer o sinal da cruz, viu que um homem se aproximava. Era o padre. Parecia bastante jovem.
- Posso ajudá-lo? - perguntou o pároco. Sua voz era suave e inspirava confiança.
O rosto de Tiago iluminou-se. Sim, se havia alguém que poderia ajudar naquela situação, era um padre. Contou-lhe tudo que acontecera, sem omitir detalhe algum. Por fim, foi tranqüilizado pelo jovem religioso.
- Meu filho, não se preocupe com mais nada. Agora, esse assunto está em minhas mãos. Hoje à noite, farei uma  visita a sua esposa e conversarei com ela.
À noite, conforme o prometido, o pároco lhes fez uma visita. Novamente, ouviu toda a história, agora contada por Denise. 
- Não se preocupe mais com isso, minha filha. - disse ele. - O poder que eu represento é muito forte. Ninguém roubará aquilo que só pertence ao nosso senhor. Assim que essa criança nascer, virei buscá-la. Ela ficará comigo na igreja, lá estará a salvo.
Embora jovem, o padre transmitia imensa segurança e fé. A voz era de puro conforto; os olhos, só doçura. Denise sentiu imediatamente que podia confiar nele.
A partir daquele dia, não teve medo de mais nada. O demônio não perturbava mais o seu sono, ela se alimentava bem e chegava até mesmo a cantarolar enquanto comprava as roupinhas para o bebê e decorava seu quarto.



Ao fim do nono mês, teve seu filho, um menino forte e saudável. Nem chegou a levá-lo para casa. Embrulhou-o em uma manta de cor escura, e saiu diretamente do hospital para a igreja, onde o padre já esperava.
- O senhor acha que ele vai precisar ficar muito tempo aqui? - perguntou, aflita por ter que se separar do bebezinho.
- Não, minha filha. Basta que ele durma aqui esta noite. Amanhã  cedo, iremos batizá-lo. Depois disso, já estará consagrado e intruso nenhum conseguirá aproximar-se dele. Aliviada, Denise deu um beijo na testa do menino e foi para casa, seguida de Tiago.


Na manhã seguinte, bem cedo, foram para a igreja, acompanhados pelos padrinhos. Denise estava ansiosa, mas feliz. Tiago torcia para que o pesadelo tivesse logo um fim. Era esse o assunto dentro do carro, onde os dois casais riam para tentar disfarçar a tensão. Denise já estava pensando que talvez pudessem se mudar para outra casa antiga.
- Desde que tenha uma boa igreja por perto - completava o padrinho, que nunca tinha levado aquela história de figueira muito a sério.
- A verdade é que sempre ficamos impressionados demais com as forças do mal - dizia a madrinha. - Acho que o maior poder que elas têm vem do nosso próprio medo. Quando decidimos enfrentá-las, não resistem.
- Talvez não seja bem assim... - ponderou Tiago, que ainda guardava bem vivos os gritos apavorados da mulher nas piores noites.
Mas o padrinho interveio:
- Ora, Tiago, se não fosse bem assim, o tal demônio teria aparecido nessa noite mesmo para buscar a criança. Ele apareceu?
Denise admitiu que não. Nada lhe perturbara o sono.
- Pois então - teimou o padrinho. - Vocês ficaram impressionados demais com essa história.
A conversa seguia tão animada, que o grupo chegou ao fim da rua sem ter parado na porta da igreja.
- Passamos do ponto. - disse Tiago, ainda rindo. - Vamos ter que voltar. 
Fizeram a manobra no carro e retornaram, desta vez prestando atenção. 
Mas não viram igreja nenhuma.
- Tem certeza de que é aqui? - perguntou a madrinha.
- Claro. - respondeu Tiago, já apreensivo.
Passaram novamente pela rua toda. Não havia sinal de igreja por ali.
Toda a tranqüilidade de Denise havia desaparecido. Sem dar ouvido às ponderações dos padrinhos, saltou do carro e começou a calçada de cima para baixo como uma louca.
Finalmente parou, com os olhos arregalados, fixos no ponto de um terreno baldio. Todos a seguiram.





No centro do terreno, imaculadamente limpo, só havia uma pequena planta. Uma muda de figueira com cerca de cinquenta centímetros de altura.
Ao lado da muda, um fiapo de lã escura camuflava-se com a terra, misturando-se, e denunciando que algo havia sido enterrado ali.

domingo, 24 de abril de 2011

No Place to Run.

RA festa ainda não havia terminado, mas nós resolvemos sair. O "nós" refere-se a mim, os meus dois amigos, cujos nomes são Paola e Marcos, e ela. Maíra.
O sapato de salto alto dificultava ainda mais os meus passos, já que eu tinha bebido o suficiente para ficar tonta. Mas lembro-me muito bem de tudo.

Naquela noite, a lua brilhava como nunca... parecia até uma espécie
de sol artificial, mas a escuridão continuava predominando...


Não prestava atenção para onde estávamos indo, até que dei de cara com um muro enorme, com a tintura branca descascada. - Você tá maluca, é? - perguntei ofegante a Maíra. - Não gosto de cemitérios! Não vou entrar! De jeito nenhum.
- Pare com a frescura - obtive como resposta - Os traficantes costumam enterrar as drogas aí para esconder da polícia... Vamos nos divertir um pouco!
- Se você não consegue controlar sua loucura, não nos meta nisso, Maíra! - gritei - E vocês dois - falei apontando para os meus amigos - Parem de ir atrás das ideias dessa garota maluca! Vocês acabaram de conhecer ela!
Mas minhas palavras não causaram impacto nenhum sobre eles, já estavam subindo atrás daquela garota.
- Ótimo, além de tudo, me ignoram - exclamei cruzando os braços - Vou ficar esperando aqui fora, caso se toquem e resolvam voltar.


Era incrível a influência que aquela garota misteriosa causava. Apesar de não simpatizar com o seu estilo de "quero encrenca", era impossível negar o seu encanto. Seu cabelo preto era perfeitamente desajeitado, contrastando com a pele, que tão pálida, parecia uma estátua ambulante. E os olhos? Negros como o céu daquela noite, com um brilho intenso, sobrenatural. Ela era do tipo que hipnotizava qualquer menino, e causava dúvidas a respeito da sexualidade de meninas, que até então, se consideravam heterossexuais - assim como ela causou em mim.

Quando escutei um grito de Paola, fui correndo em direção aos portões e subi. Porém, não obtive sucessos na descida, acabei caindo em cima de uma pedra, machucando meu joelho, tendo ainda mais dificuldades para andar. Os encontrei sentados em cima de um túmulo. Marcos ria sem parar, Maíra esboçava aquele sorriso enigmático e sarcástico. E Paola, quem causou milhares de pensamentos negativos em minha mente por causa de seu grito, estava com uma expressão raivosa e risonha ao mesmo tempo. - Eles quase me causaram um infarto - ela disse.
- Você é que quase me causou um infarto, garota, o que aconteceu?
Ela aponta para Marcos, que pega um crânio de um lata de lixo, ainda rindo.
- Parem de brincar com isso. Além de desrespeitoso, é nojento! - falei observando as deformações, e que idade deveria ter aquilo.
- Se acalme, eles são tão jovens... Isso é normal nessa idade. - Disse Maíra, que ainda esboçava o sorriso que me inquietava.
- Você fala de um jeito que parece muito mais velha. - falei.
- Talvez eu seja.

 Após sua resposta, escutei o barulho de um vento forte, que parecia aproximar-se cada vez mais. Comecei a correr em direção a uma capela, e Paola veio atrás. Quando paramos e olhamos para trás, vimos Marcos parado, olhando fixo para a cruz no topo da capela.
- Marcos, o que você está esperando? Venha! - Paola gritou.
Maíra pegou um machado, e eu, prevendo o que ela iria fazer, soltei um grito e tentei correr em direção a Marcos, mas Paola me puxou e continuamos correndo.

Maíra vinha atrás de nós, e era impressionante a velocidade que ela corria. Entramos na igreja e tentamos trancar a porta, achando que Maíra iria tentar arrombar. Mas a única coisa que ela fez foi dar uma risada diabólica e gritar "Vocês não tem como escapar, não podem ficar aí para sempre."


Acordei com uma enorme dor de cabeça e sensação de agulhas perfurando meus braços. Só então percebi que não estava mais na capela, e sim em um quarto de hospital. E ao invés de Paola, estavam na minha volta os meus pais, uma enfermeira e um homem que eu não sabia quem era, que estava me encarando.
Perguntei o que tinha acontecido, e todos ficaram um tempo sem falar nada, até que o homem estranho se manifestou.
- Bom dia senhorita, eu sou o delegado da polícia municipal. Encontramos você e sua amiga, Paola. desmaiadas na igreja do cemitério da cidade. Ela, infelizmente, está morta.
A sensação de pânico me invadiu.
- Como assim morta? Ela estava super bem. Quem morreu foi o Marcos, assassinado por aquela vag...
- Assassinado por quem? - perguntou o delegado, mas me deixando sem tempo de responder. - Paola Sanches  foi encontrada degolada. E você é a principal  vítima de seu assassinato.
- Eu não matei ela, foi aquela tal de Maíra que matou o Marcos... Aí eu e a Paola corremos pra nos esconder na igreja. Então nós nos deitamos no chão, usamos nossos casacos como cobertas e fomos dormir.
- Espere aí senhorita... - disse, pegando uma caderneta e uma caneta no bolso do casaco, fazendo anotações. - Seu médico já lhe deu alta, acho que podemos conversar melhor no meu escritório.


Chegamos ao estacionamento, e como eu imaginava, iríamos em um carro da polícia. Embarquei no banco de trás, já que o delegado insistiu em achar que não tenho mais de 12 anos, e naquela hora não fazia ideia de onde foram parar meus documentos.
A sensação de entrar em uma delegacia de polícia é indescritível, principalmente quando você é acusada de ser uma assassina psicopata por ter degolado sua amiga em uma noite anterior, quando na verdade, você estava era fugindo de uma assassina psicopata de verdade que tinha acabado de matar um amigo seu diante de seus olhos.

Ele sentou-se e ordenou para que eu fizesse o mesmo. Obedeci, então, ficamos separados por sua mesa.
- Você falou de uma outra garota que tinha assassinado um amigo seu... qual é mesmo o nome dela?
- Maíra.
- Hum. E?
- E o quê?
- Bem, senhorita, acredito que há várias meninas com o nome de Maíra por esta cidade. Só o nome não é suficiente, se você puder contribuir com sobrenome, fisionomia...
- Eu não sei o sobrenome dela, conheci ela ontem. Ela tem cabelos e olhos pret...
Fiquei paralisada quando vi aquela foto em um porta retrato na mesa. Era ela. O mesmo vestido, o mesmo penteado, o mesmo sorriso enigmático da noite anterior. Era ela, Maíra!
Minha unica reação foi apontar para o retrato.
- Hein? O que você está querendo dizer?
- É éssa! É essa a garota!
- O quê? Impossível. Essa garota viveu cerca de setenta anos atrás, era a irmã da minha avó. Não cheguei a conhecê-la, já que morreu quando ainda era nova, mas coloquei seu retrato aqui porque a achei linda... E precisava de algo de bonito para colocar aqui, não que eu esteja reclamando das fichas e fotos dos criminosos, é claro. Aliás, por estranhas coincidências, ela também foi degolada, e foi encontrada morta algumas horas depois de ter tirado esta foto.
- Eu tô falando a verdade, foi essa a garota que eu vi.
- Olha, mocinha, eu nunca lidei com casos de menores de idade cometendo assassinatos do tipo. Eu sei que você deve estar nervosa, até porque eu realmente desconsidero a possibilidade de ter sido você quem cometeu este assassinato, mas falar esse tipo de coisas já passa do limite.
- Espere, espere... O corpo dela está enterrado no cemitério da cidade?
- Sim.
- Então vamos lá, eu vou provar para você que eu estou falando a verdade.

Realmente, o túmulo dela existia. E estava arrombado, com o concreto destruído provavelmente por um martelo, o que facilitou para mim na verdade, porque ainda teria que conseguir algum tipo de permissão para poder abri-lo. E o motivo? "Eu acho que a garota que foi enterrada aí andou dando umas saídas e matando pessoas, sabe? Ei, esperem, o que vocês vão fazer com essa camisa de força?"
Um grito saiu da minha boca quando abrimos o caixão. Era o corpo de Marcos que estava lá, e a cabeça, estava em cima de seu peito, dando uma impressão bastante sarcástica.

Eu consegui ser inocentada por enquanto, mas as buscas continuam, e eu sei que ainda não acabou... Não para mim.
E a dúvida que ainda perturba minha mente é, onde está Maíra?


Oh, Happy Ēostre! Wait... Ēostre?

Enfim, a Páscoa. Um feriado que sempre faz com que eu me perca, pois nunca sei qual é o dia de peixe, e o dia de chocolate. Ah sim, o chocolate... Um doce que causa um desejo enorme, e uma insatisfação até que o mesmo esteja em sua boca...
Sem desviar o assunto, o chocolate é como o primeiro conceito que as pessoas têm a respeito de Páscoa... sim, refiro-me as crianças. Quando a Páscoa se aproxima, os mercados encantam os olhos de todos os meninos e meninas, com aqueles papéis coloridos cobrindo o magnífico, o esplendoroso, ovo de chocolate do sr. Coelho (quanta confusão deve causar na cabeça das crianças ao descobrirem que coelhos não botam ovo, e chocolate é feito de cacau e açúcar).

Então, após alguns anos, vem alguém e diz que Páscoa na verdade, é o período entre a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, um homem que viveu há 2011 anos atrás, causou e ainda causa uma mudança religiosa pelo mundo inteiro. A explicação para os elementos que eram até então o conceito de Páscoa,  é que o ovo é uma representação simbólica da vida, do fruto, do nascimento, e no caso, o renascimento de Jesus. E que o coelho e o chocolate são apenas produções do malvado e aproveitador capitalismo, que tira vantagens sobre uma data tão importante como esta. Fim. Está formado então, o segundo conceito da páscoa.







Mas qual será o terceiro conceito? Ou a "verdade oculta" como gosto de chamar?








Muito antes do surgimento do cristianismo, A Páscoa era uma tradição comemorada por diversos povos europeus, entre eles os germânicos, saxões, anglos e nórdicos, no qual era a passagem do inverno, uma estação de frio e um ruim aproveitamento nas plantações, para uma estação de calor e luz. Cada povo tinham em sua cultura deusas que representavam essa comemoração, para os nórdicos era a deusa Freyja, para os gregos a Afrodite, e para os germânicos a Oster. Repararam no nome?



Oster, Eostre, Easter... Assim foi modificando-se o nome, até que a igreja católica resolveu adotar, ou seria melhor dizer "roubar" essa tradição, e relaciona-la a sua crença.
Então, essa é a Páscoa.

sábado, 23 de abril de 2011

[...]

Nunca sei como começar algo, nunca. Nunca soube. Principalmente quando tal ato vem acompanhado de decisões, e algo para escrever, onde se tem 26 letras e um número abundante de palavras. E ainda por cima a questão de "O que vou escrever?"
Vim parar aqui porque estava procurando na internet algo que me desse luz a respeito de uma tatuagem que pretendo fazer futuramente, aliás, há anos estou cercada por essa dúvida... E encontrei um blog... que não me ajudou em absolutamente NADA porque não tinha nada a ver com o assunto. Mas mesmo assim, eu o li, e achei interessante. E comecei a ler outros blogs também, e lembrar de outros que li anteriormente... Todos muito interessantes. Então tive a ideia de criar um este. Fim. Se será interessante ou não, eu não sei, porque não consigo dizer realmente o que vou postar... Podem variar desde comentários simples que não mudam a vida de ninguém, á questões filosóficas e científicas elaboradas durante horas... que podem continuar não mudando a vida de ninguém...
Ou não.
Provavelmente haverá pessoas perdidas entre aquelas que irão ler minhas postagens, porque além de tudo, sou uma pessoa contraditória... Se isso é uma qualidade ou um defeito, depende de cada um.

É isso.